Saúde

Tricotilomania e o Impulso de Arrancar Fios de Cabelo

A tricotilomania, um transtorno do controle dos impulsos caracterizado pelo impulso compulsivo de arrancar os próprios cabelos, afeta um grande contingente da população mundial, podendo causar lesões significativas e sofrimento emocional. 

Apesar da tricotilomania ser uma condição relativamente comum, ainda há pouca informação sobre o assunto, o que acaba sendo uma barreira para o acesso a ajuda necessária para o tratamento do quadro.

Neste artigo, exploraremos a tricotilomania, examinando suas causas e sintomas, bem como discutindo as opções de tratamento disponíveis que podem ajudar a aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados. 

Tricotilomania e o Impulso de Arrancar Fios de Cabelo
Fonte: Canva

Entendendo a Tricotilomania: Causas e Sintomas

A tricotilomania é classificada como um transtorno do controle dos impulsos, e é mais comum do que muitos podem imaginar. Estima-se que cerca de 1 a 2% da população mundial sofra desse transtorno. Embora possa afetar pessoas de qualquer idade, a tricotilomania geralmente se desenvolve na infância ou adolescência.

As causas exatas da tricotilomania ainda não são completamente compreendidas, mas acredita-se que fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais possam estar envolvidos. 

O transtorno pode ser desencadeado por eventos estressantes ou traumáticos e, em alguns casos, pode funcionar como uma forma de lidar com emoções negativas, como ansiedade, depressão ou ócio.

Os sintomas mais comuns da tricotilomania incluem:

  • O impulso de arrancar cabelos, principalmente do couro cabeludo, sobrancelhas e cílios;
  • Sensação de tensão antes de arrancar o cabelo ou resistir ao impulso;
  • Alívio, satisfação ou prazer após arrancar os cabelos;
  • Áreas com falta de cabelo ou falhas no couro cabeludo, sobrancelhas ou cílios;
  • Tentativas de esconder a perda de cabelo com chapéus, lenços ou maquiagem;
  • Isolamento social ou emocional devido à vergonha ou constrangimento.

Terapias e Abordagens para a Tricotilomania

Embora não haja cura definitiva para a tricotilomania, existem várias opções de tratamento que podem ajudar a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas. 

A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) é uma forma de psicoterapia que ajuda os pacientes a identificar e mudar padrões de pensamento e comportamento negativos. 

A TCC para tricotilomania geralmente envolve o uso de técnicas de prevenção de recaídas e treinamento de habilidades, como a reversão de hábito, que ensina os pacientes a substituir o comportamento de arrancar cabelos por outro comportamento inofensivo.

Em alguns casos, medicamentos podem ser prescritos para ajudar a controlar os sintomas da tricotilomania. Os medicamentos mais utilizados incluem inibidores seletivos de receptação de serotonina (ISRS), que podem ajudar a reduzir a ansiedade e a depressão associadas ao transtorno. 

Outros medicamentos, como a clomipramina e a naltrexona, também podem ser prescritos, dependendo das necessidades específicas do paciente. É importante lembrar que a medicação deve ser sempre administrada sob supervisão médica.

Além disso, algumas pessoas com tricotilomania podem se beneficiar de terapias alternativas e complementares, como acupuntura, hipnose, terapia de arte ou terapia com animais. Essas abordagens podem ajudar a reduzir o estresse, melhorar o bem-estar emocional e aumentar a autoestima.

Importância do Suporte e a Autocuidado

Além do tratamento profissional, existem várias estratégias que as pessoas com tricotilomania podem adotar para lidar melhor com o transtorno e minimizar seu impacto em suas vidas.

Falar sobre a tricotilomania com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental pode ajudar a reduzir a vergonha e o isolamento associados ao transtorno. 

Grupos de apoio, tanto presenciais quanto online, também podem ser uma excelente forma de compartilhar experiências e receber apoio de outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes.

A prática regular de atividades que promovam o bem-estar físico e mental, como exercícios físicos, meditação, hobbies criativos ou técnicas de relaxamento, pode ajudar a diminuir o estresse e a ansiedade, contribuindo para o controle dos sintomas da tricotilomania.

Conhecer os gatilhos que desencadeiam a tricotilomania pode ser útil para evitar situações de risco e buscar estratégias para lidar com eles de forma saudável.

Conclusão

A tricotilomania é um desafio complexo e frequente que afeta um grande número de pessoas em todo o mundo. Compreender a natureza multifacetada deste transtorno do controle dos impulsos é crucial para apoiar efetivamente aqueles que enfrentam essa condição em suas vidas cotidianas. 

Através do tratamento profissional adequado, como a TCC, medicamento e abordagens alternativas, muitas pessoas podem experimentar uma melhora significativa nos sintomas e no bem-estar geral.

Além disso, é essencial reconhecer a importância do apoio de amigos, familiares e profissionais de saúde mental no processo de recuperação da tricotilomania. Compartilhar experiências e buscar grupos de apoio pode ser fundamental para reduzir o isolamento e a vergonha associados ao transtorno. 

Adotar estratégias de autocuidado e gerenciar gatilhos emocionais e ambientais também desempenha um papel importante na prevenção de recaídas e na manutenção da saúde mental.

Em última análise, o conhecimento e a compreensão da tricotilomania e suas opções de tratamento são fundamentais para ajudar aqueles que sofrem com essa condição a superar seus desafios e alcançar uma vida mais saudável e gratificante.

Kayo Barboza

Médico Psiquiatra (CRM/BA 27300/RQE 17784) com formação em Mindfulness, fundador do Projeto Kalmaria e apaixonado pela missão de promover saúde mental para o maior número de pessoas possível.

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