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Transtorno de Personalidade Limítrofe: Guia Completo

O transtorno de personalidade limítrofe, também conhecido como borderline,  é uma condição de saúde mental complexa que desperta o interesse e a curiosidade devido à sua natureza e implicações para o indivíduo e para as pessoas ao seu redor.

Caracterizado por um comportamento instável, emoções extremas e impulsividade, o transtorno muitas vezes confunde e preocupa tanto os pacientes quanto seus entes queridos. 

Este artigo busca desmistificar e  compreender este quadro, fornecendo informações detalhadas sobre seus sintomas, causas e tratamentos disponíveis. Além disso, trazemos orientações para os familiares e pacientes a fim de ajudar a lidar com esse transtorno. 

Mulher com transtorno de personalidade limitrofe
Fonte: Canva

1. Sintomas do Transtorno de Personalidade Limítrofe

O transtorno de personalidade limítrofe é caracterizado principalmente por comportamento instável e impulsivo. Este transtorno geralmente começa durante a adolescência ou no início da idade adulta e costuma ser mais comum em mulheres do que em homens.

A instabilidade emocional é uma marca registrada do transtorno de personalidade limítrofe. Os indivíduos com este transtorno podem vivenciar momentos de raiva intensa, depressão ou ansiedade e em um piscar de olhos mudar seu estado de humor para alegria e otimismo.

Essas flutuações costumam ser bem rápidas e podem durar apenas algumas horas ou, no máximo, alguns dias.  Esse padrão de comportamento instável contribuem para que os pacientes tenham relacionamentos instáveis e muitas vezes conturbados.

Além disso, esses indivíduos têm uma percepção distorcida de si mesmos e dos outros. Eles podem ver alguém como completamente bom num momento e completamente mau no outro, sem um meio-termo. Essa visão polarizada contribui ainda mais para a instabilidade nos relacionamentos.

Outros sintomas que também costumam estar presentes incluem: 

  • Medo intenso de ser abandonado; 
  • Comportamento impulsivo e arriscado (como gastos excessivos, sexo inseguro, uso de substâncias, direção imprudente, compulsão alimentar); 
  • Automutilação; 
  • Sentimentos crônicos de vazio; 
  • Dificuldade para controlar a raiva; 
  • Sentimentos paranóicos em situações de estresse; 
  • Dissociação (sentimento de desconexão com a própria identidade ou com o ambiente);
  • Ideação, planejamento e tentativa de suicídio. 

2. Principais Causas

As causas exatas do transtorno de personalidade limítrofe não são totalmente compreendidas, mas geralmente se acredita que uma combinação de fatores genéticos, ambientais e sociais possam contribuir para o desenvolvimento do transtorno.

Os achados dos estudos sugerem que há um componente genético, visto que o transtorno parece ser mais comum em pessoas que têm parentes próximos com a mesma condição. Porém, não se sabe ao certo se isso tem relação com o fator genético puramente ou se seria a influência do ambiente.

Além disso, experiências traumáticas, como abuso físico ou sexual na infância, podem aumentar o risco de desenvolver o transtorno e costumam ser situações comumente relatadas pelos pacientes.

Há também uma teoria de que a desregulação emocional que ocorre no transtorno de personalidade limítrofe pode ser devido a anormalidades no funcionamento de algumas áreas do cérebro que são responsáveis pelo controle das emoções e do comportamento.

3. Tratamentos Disponíveis

O tratamento para o transtorno de personalidade limítrofe geralmente envolve uma combinação de psicoterapia e, quando necessário, medicamentos.

A Terapia Dialética Comportamental (TDC) é uma abordagem derivada da terapia cognitivo-comportamental que foi desenvolvida especificamente para tratar o transtorno de personalidade limítrofe. 

O principal objetivo da TDC é auxiliar os pacientes com o transtorno de personalidade a desenvolver habilidades para lidar com o estresse, regulação das emoções e construção de  relacionamentos mais saudáveis.

Existem outros tipos de terapias que também podem ser eficazes, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), a terapia baseada em mentalização (TBM) e a terapia focada em esquemas (TFE).

Em relação aos medicamentos, embora não exista um medicamento específico para tratar o transtorno de personalidade limítrofe, medicamentos como antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor podem ser usados para tratar sintomas específicos ou condições coexistentes.

4. Convivendo com o Transtorno de Personalidade Limítrofe

Viver com o transtorno de personalidade limítrofe pode ser extremamente desafiador, tanto para a pessoa com o diagnóstico quanto para as pessoas mais próximas. A instabilidade emocional e os comportamentos impulsivos podem ser difíceis de lidar e levar a sérias consequências.

No entanto, com o tratamento adequado, muitas pessoas com transtorno de personalidade limítrofe são capazes de levar vidas saudáveis e produtivas. Aprender a gerir o estresse, regular as emoções e melhorar as habilidades de relacionamento são todas partes cruciais da recuperação.

Para os familiares e amigos próximos, é essencial buscar apoio e educação sobre a condição. Participar de grupos de apoio, conversar com profissionais de saúde mental e aprender estratégias de autocuidado podem fazer uma enorme diferença.

Conclusão

O transtorno de personalidade limítrofe é uma condição de saúde mental que apresenta desafios significativos, tanto para os indivíduos diagnosticados quanto para seus entes queridos. 

No entanto, a esperança e a recuperação são possíveis através do tratamento adequado, apoio e compreensão. O primeiro passo para enfrentar este transtorno é buscar ajuda profissional e seguir rigorosamente o tratamento proposto, que pode incluir terapias e/ou medicamentos. 

Os indivíduos com esse transtorno podem levar vidas saudáveis, produtivas e satisfatórias, com uma estratégia de tratamento eficaz e um compromisso com a autogestão.

Para os entes queridos, torna-se crucial investir tempo na compreensão deste transtorno, aprendendo a oferecer um suporte eficaz sem julgar. Também é importante lembrar de cuidar da própria saúde mental, pois apenas assim conseguirá oferecer o cuidado da melhor forma.

Por fim, é necessário esforço coletivo para erradicar o estigma associado ao transtorno de personalidade limítrofe. Através da educação, compreensão e empatia, podemos criar um ambiente de acolhimento e suporte, aprendendo a gerenciar a vida de todos aqueles afetados por este transtorno de uma forma mais saudável e plena.

Kayo Barboza

Médico Psiquiatra (CRM/BA 27300/RQE 17784) com formação em Mindfulness, fundador do Projeto Kalmaria e apaixonado pela missão de promover saúde mental para o maior número de pessoas possível.

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