Saúde

Ansiedade Pode Causar Dor no Estômago?

Ao longo do tempo, profissionais de saúde e pesquisadores têm observado uma correlação notável entre ansiedade e complicações gastrointestinais, levantando a questão: a ansiedade pode realmente causar dor no estômago?

A ligação entre a mente e o corpo é poderosa, e frequentemente nossas emoções podem se manifestar de formas físicas. Se você  já sentiu aquela sensação familiar de “borboletas no estômago” antes de um evento importante, sabe bem o que estou falando. 

Neste artigo, iremos mergulhar fundo nas nuances dessa relação, explorando as razões fisiológicas e psicológicas pelas quais a ansiedade pode manifestar-se no estômago e discutir formas de lidar e aliviar esses sintomas desconfortáveis.

Mulher sentindo dor no estômago
Fonte: Canva

1. A Conexão entre Mente e Estômago

O estômago não é apenas um órgão para digerir alimentos; ele também responde a sentimentos e emoções. Isso ocorre porque o cérebro e o sistema gastrointestinal (GI) estão intrinsecamente conectados através do que é chamado de “eixo cérebro-intestino“. 

Esse eixo corresponde a um emaranhado de neurônios que são responsáveis pela comunicação direta entre o estômago e o sistema gastrointestinal e é responsável pela salivação ao imaginar uma comida que você gosta muito enquanto está com fome.

A serotonina, um neurotransmissor crucial para regular o humor, também desempenha um papel vital no sistema GI. Quando a ansiedade se eleva, a produção e  função da serotonina se alteram, afetando o funcionamento do estômago e causando desconforto.

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2. Dor no Estômago e Resposta ao Estresse

A resposta natural do nosso corpo ao estresse é a “luta ou fuga“. Esta é uma reação primitiva que prepara o corpo para responder a uma ameaça. Quando sentimos ansiedade, nosso corpo libera adrenalina e outros hormônios do estresse. 

Esta resposta causa várias reações físicas, como aceleração do ritmo cardíaco e redirecionamento do fluxo sanguíneo para os músculos. Em relação ao estômago, pode haver uma diminuição do fluxo sanguíneo, levando a espasmos ou dor. 

Outro fenômeno que pode acontecer é a produção de ácido gástrico que também pode aumentar, contribuindo para uma sensação de queimação (pirose) ou dor no estômago.

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3. Problemas Gastrointestinais Crônicos e Ansiedade

Enquanto a dor abdominal pode surgir de várias fontes, como uma dieta inadequada ou infecção, a ansiedade é uma causa frequentemente subestimada. Esta reação é parte do intrincado equilíbrio do corpo humano ao estresse e emoções, onde o estômago, surpreendentemente, desempenha um papel de destaque. 

Não é apenas o estresse agudo ou ansiedade momentânea que pode causar dor no estômago. Indivíduos com transtornos ansiosos crônicos, têm maior probabilidade de desenvolver problemas gastrointestinais, como síndrome do intestino irritável (SII). 

A SII é uma condição que envolve dor abdominal, inchaço e alterações nos hábitos intestinais. Embora a relação exata entre SII e ansiedade ainda seja objeto de estudo, sabe-se que a gestão do estresse e da ansiedade pode aliviar os sintomas da SII.

4. O Papel dos Probióticos na Saúde Gastrointestinal

Estudos recentes têm mostrado que os probióticos podem desempenhar um papel crucial na saúde do estômago e na regulação da dor. Probióticos são bactérias benéficas que auxiliam na digestão e na saúde geral do intestino. 

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Essas “bactérias do bem” também podem influenciar o eixo cérebro-intestino, potencialmente ajudando a reduzir os sintomas de ansiedade.

Portanto, o consumo regular de alimentos ricos em probióticos, como iogurte e ou outros alimentos fermentados, pode ser benéfico no alívio das dores no estômago relacionadas à ansiedade.

5. Conexão entre Dor no Estômago e Outros Sintomas Psicossomáticos

A dor no estômago causada pela ansiedade não ocorre isoladamente. Muitas vezes, está associada a outros sintomas psicossomáticos, como dores de cabeça, tensão muscular e palpitações. 

Essa interconexão reforça a ideia de que a mente e o corpo estão intrinsecamente ligados. É essencial abordar a causa subjacente, neste caso, a ansiedade, para tratar eficazmente todos os sintomas associados.

6. Maneiras de Aliviar a Dor no Estômago Causada pela Ansiedade

Se você suspeita que sua dor no estômago está relacionada à ansiedade, existem algumas abordagens que podem ajudar:

  • Técnicas de relaxamento: Praticar meditação, respiração profunda ou ioga pode ajudar a reduzir os níveis de estresse e ansiedade, aliviando consequentemente a dor no estômago.
  • Dieta balanceada: Comer pequenas refeições ao longo do dia e evitar alimentos que irritam o estômago pode diminuir a produção de ácido gástrico e, por sua vez, reduzir a dor.
  • Terapia: Conversar com um terapeuta ou psicólogo sobre sua ansiedade pode ser benéfico. A terapia cognitivo-comportamental, em particular, é eficaz para tratar distúrbios de ansiedade e pode ajudar a gerenciar os sintomas gastrointestinais relacionados.
  • Avaliação Médica: Em alguns casos, medicamentos para ansiedade ou para condições específicas do estômago podem ser necessários. Sempre consulte um médico antes de começar qualquer tratamento ou se sentir um desconforto persistente no estômago

Conclusão

O corpo humano, em sua complexidade, opera em um equilíbrio delicado, onde a mente e o corpo frequentemente interagem e se influenciam mutuamente. 

A dor no estômago, um sintoma muitas vezes relegado apenas a causas alimentares ou infecciosas, revela-se também um reflexo palpável das turbulências emocionais e do estresse que alguém pode estar enfrentando. 

A relação entre ansiedade e desconforto gastrointestinal não é apenas uma coincidência, mas um testemunho da estreita relação entre nosso estado emocional e nosso bem-estar físico

Quando enfrentamos episódios de ansiedade, é crucial não ignorar os sinais que nosso corpo nos envia. Além de cuidar da mente, é fundamental dar atenção ao corpo e buscar soluções holísticas que abordam ambos os aspectos. 

Se você ou alguém que você conhece experimenta dores no estômago recorrentes e suspeita de uma relação com a ansiedade, é vital procurar orientação. Com o cuidado médico e apoio emocional, é possível encontrar alívio tanto para a mente e corpo.

Kayo Barboza

Médico Psiquiatra (CRM/BA 27300/RQE 17784) com formação em Mindfulness, fundador do Projeto Kalmaria e apaixonado pela missão de promover saúde mental para o maior número de pessoas possível.

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