Saúde

Síndrome do Intestino Irritável: Sintomas e Tratamento

A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio de ordem gastrointestinal que afeta um número crescente de pessoas ao redor do mundo, tornando-se uma preocupação de saúde pública globalmente. 

Apesar da SII não ser associada a um aumento no risco de doenças mais graves como câncer ou doenças inflamatórias intestinais, pode ser profundamente perturbadora para a vida diária de quem sofre com ela. 

A complexidade da SII e a falta de uma causa única conhecida tornam seu tratamento e gestão um processo desafiador. Este artigo busca aprofundar a compreensão dos sintomas e discutir as principais opções terapêuticas disponíveis.

Mulhor com dor abdominal por causa da Síndrome do Intestino Irritável
Fonte: Canva

1. O que é Síndrome do Intestino Irritável?

Manifestando-se principalmente no intestino grosso, a SII é caracterizada por uma série de sintomas que variam em intensidade e frequência, como dor abdominal, inchaço, diarreia ou constipação. 

Muitos pacientes relatam que seus episódios são frequentemente desencadeados por situações de estresse ou pela ingestão de certos alimentos. A SII é um distúrbio funcional; isso significa que, enquanto o intestino não funciona adequadamente, não há sinais visíveis de dano ou alterações estruturais. 

Muitos estudos têm procurado as causas subjacentes da SII, sugerindo uma combinação de fatores físicos e mentais. Até o momento, não se sabe exatamente o que causa a SII, mas frequentemente surge após uma infecção intestinal ou um período de estresse intenso. 

Fatores alimentares, genéticos e hormonais também podem desempenhar um papel. Além disso, há pesquisas que apontam para uma possível relação entre a SII e um desequilíbrio da microbiota intestinal.

2. A Relação da Síndrome do Intestino Irritável e a Saúde Mental

A síndrome do intestino irritável (SII) não é apenas uma condição que afeta o sistema digestivo. Há uma crescente compreensão da estreita relação entre a SII e a saúde mental.

Estas são algumas das principais interações e impactos observados entre as duas:

  • Conexão Cérebro-Intestino: Pesquisas recentes destacaram a bidirecionalidade da conexão cérebro-intestino. Isso significa que, enquanto o cérebro pode influenciar a função intestinal, o intestino também pode enviar sinais ao cérebro que afetam o humor e a saúde mental.
  • Estresse e Ansiedade: Muitos pacientes com SII relatam que seus sintomas são exacerbados durante períodos de estresse ou ansiedade. Ao mesmo tempo, enfrentar os desafios diários da SII pode contribuir para o aumento do estresse e da ansiedade, criando um ciclo vicioso.
  • Depressão: Uma porcentagem significativa de indivíduos com SII também experimenta sintomas de depressão. Embora a relação exata ainda esteja sendo estudada, sabe-se que desequilíbrios na microbiota intestinal podem afetar a produção de neurotransmissores que regulam o humor.

A relação entre a SII e a saúde mental é complexa. Porém, reconhecendo esta relação, podemos avançar para estratégias de tratamento mais completas e cada vez mais eficazes.

3. Principais Sintomas

A SII é caracterizada por uma combinação de sintomas que variam em intensidade e duração de pessoa para pessoa. Os sintomas mais comuns incluem:

  • Dor abdominal: A dor é frequentemente descrita como cólica, mas pode ser contínua. Geralmente alivia após a evacuação.
  • Inchaço e distensão abdominal: Algumas pessoas com SII notam que sua barriga fica mais inchada e distendida ao longo do dia.
  • Diarréia ou constipação: Pessoas com SII podem ter episódios de ambos, embora algumas pessoas possam ter predominantemente um ou outro.
  • Sensação de evacuação incompleta: Mesmo após evacuar, pode persistir a sensação de que ainda há mais fezes a serem expelidas.
  • Fadiga e insônia: Muitos pacientes com SII relatam sentir-se constantemente cansados durante o dia e dificuldade em dormir durante a noite.

4. Fatores de Risco

Vários fatores podem aumentar a probabilidade de desenvolver SII. Entre os principais, podemos destacar:

  • Idade: A SII costuma surgir mais comumente em adultos jovens e pessoa de meia-idade.
  • Sexo: Estatisticamente, as mulheres são duas vezes mais propensas a desenvolver SII do que os homens.
  • História familiar: Se houver história de outro membro da família ter SII, há uma maior probabilidade de você desenvolver a condição.
  • Doenças associadas: Condições como fibromialgia, dores de cabeça crônicas ou dispepsia funcional podem estar associadas à SII.

5. Opções de Tratamento

Uma vez que ainda não se saiba a causa, o tratamento da SII é voltado para o alívio dos sintomas. Uma combinação de abordagens pode ser necessária:

  • Mudanças na dieta: A identificação e evitação de gatilhos alimentares pode ser uma estratégia útil. A introdução de uma dieta balanceada, rica em fibras e evitando alimentos processados ou carboidratos refinados, pode ajudar algumas pessoas.
  • Probióticos: A utilização das “bactérias do bem” através de suplementos ou alimentos específicos, podem ajudar a restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal e melhorar os sintomas da SII..
  • Terapia: A psicoterapia ajuda os pacientes a lidar com a ansiedade ou o estresse que pode desencadear ou agravar os sintomas.
  • Exercícios: A atividade física regular pode ajudar a aliviar os sintomas da SII, melhorando a função intestinal e reduzindo o estresse.
  • Técnicas de redução do estresse: Meditação, respiração profunda e outras técnicas de relaxamento podem ajudar a aliviar os sintomas da SII em alguns pacientes.

Conclusão

A síndrome do intestino irritável, embora complexa, não é uma sentença que condena alguém a viver em desconforto perpétuo. O entendimento adequado e a gestão proativa da condição podem significar uma transformação na qualidade de vida dos afetados. 

O essencial é reconhecer a singularidade de cada paciente. Uma abordagem multidisciplinar, que combina intervenções médicas, dietéticas e terapêuticas, muitas vezes produz os melhores resultados. 

A colaboração contínua entre o paciente e os profissionais de saúde é crucial para adaptar o tratamento conforme necessário. Adicionalmente, a pesquisa em torno da SII continua a evoluir, trazendo esperança de novas descobertas e tratamentos mais eficazes no futuro. 

O objetivo deste artigo é orientar aqueles com SII a assumir uma vida não definida pela sua condição, mas enriquecida por um bem-estar ampliado e uma compreensão mais profunda de seu próprio corpo. Reconhecer, entender e enfrentar a SII de maneira proativa é o primeiro e mais vital passo para retomar o controle da saúde e do bem-estar digestivo.

Kayo Barboza

Médico Psiquiatra (CRM/BA 27300/RQE 17784) com formação em Mindfulness, fundador do Projeto Kalmaria e apaixonado pela missão de promover saúde mental para o maior número de pessoas possível.

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