Saúde

Tensão na Mandíbula e Ansiedade: Por que Acontece?

Uma dúvida muito comum que escuto dos pacientes no consultório é se a tensão na mandíbula e ansiedade tem alguma relação. Dentre tantos sintomas físicos provocados pela ansiedade, será que a tensão mandibular pode ser um deles?

Tanto a tensão mandibular como a ansiedade, condições que podem ocorrer separadamente, contudo, quando ocorrem simultaneamente, podem levar a um ciclo de sofrimento que prejudica muito a qualidade de vida.

Ao longo deste artigo, iremos abordar a relação complexa entre essas duas condições, discutindo as causas, sintomas, efeitos a longo prazo e possíveis abordagens terapêuticas para aliviar a tensão na mandíbula.

tensão na mandíbula e ansiedade: mulher com dor na mandíbula
Fonte: Canva

I. A Conexão Entre a Tensão na Mandíbula e Ansiedade

O corpo humano foi se adaptando ao longo do seu processo evolutivo para se adaptar ao estresse e diante dessas situações ele apresenta uma série de alterações fisiológicas destinadas a prepará-lo para enfrentar o desafio percebido.

Este processo, também conhecido como “reação de luta ou fuga“, pode resultar em tensão muscular, uma vez que o corpo precisará de toda resposta muscular para responder a uma ameaça iminente.

O maior problema disso é que na maior parte do tempo essa “ameaça” é criada pela nossa mente e esse esse padrão de resposta que gera tensão muscular, inclusive na mandíbula, acontece quando nos deparamos com um desafio no trabalho ou quando temos contas pra pagar.

Logo, quando estamos cronicamente estressados e ansiosos, os músculos da mandíbula estão constantemente tensos, causando a sensação de rigidez, dor e desconforto nessa região.

II. Sintomas da Tensão na Mandíbula Causada pela Ansiedade

A tensão na mandíbula pode se manifestar de diferentes formas, o que algumas vezes pode dificultar o diagnóstico e confundi-lo com outras alterações.

Alguns indivíduos podem sentir dor ou desconforto diretamente na região da mandíbula, que por vezes pode se estender até o ouvido gerando sensação de “tamponamento”, dor ou redução da audição.

Outros podem ter dificuldade em abrir a boca completamente, ou sentir desconforto ao mastigar. Uma queixa muito comum dos pacientes é o relato de dor ao acordar por conta da tensão gerada nessa região no período da noite, podendo estar associado ao bruxismo.

Além disso, pode haver dores de cabeça tensionais, ruídos ou cliques ao mover a mandíbula, e em casos mais graves, um desalinhamento dos dentes, necessitando de intervenção profissional.

Estes sintomas podem variar de intensidade ao longo do tempo e se tornar particularmente intensos em períodos de maior ansiedade.

III. Efeitos a Longo Prazo

Se não tratada, a tensão mandibular pode levar a problemas mais sérios, necessitando por vezes de intervenção cirúrgica nos casos mais graves.

A tensão muscular constante pode levar ao desgaste do disco da articulação temporomandibular (ATM), a articulação que conecta a mandíbula ao crânio. Isso pode resultar em uma condição chamada disfunção da ATM, que pode causar dor crônica e desconforto, necessitando de tratamento médico.

Tensão na Mandíbula e Ansiedade: Articulação Temporomandibular
Articulação Temporo-Mandibular. Fonte: Canva

A ansiedade crônica pode ter um impacto significativo em sua saúde em geral. As pesquisas tem demonstrado que a ansiedade prolongada pode levar a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas, problemas digestivos e distúrbios do sono.

Até aqui fica claro o quanto a tensão na mandíbula e ansiedade pode levar a prejuízos não apenas na qualidade de vida como também o desenvolvimento de outras doenças físicas e mental, daí a importância da necessidade do tratamento de ambas as condições.

IV. Tratamentos Disponíveis

O tratamento da tensão na mandíbula e ansiedade geralmente requer uma abordagem para cada sintoma como também estratégias que irão tratar tanto a tensão física quanto a ansiedade subjacente.

Técnicas de relaxamento, como meditação, práticas de respiração e yoga, podem ajudar a reduzir a tensão muscular e também a ansiedade. Além disso, exercícios específicos para a mandíbula, prescritos por um fisioterapeuta ou um dentista, também podem ser úteis para aliviar a tensão local.

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado como uma das estratégias mais eficazes no tratamento da ansiedade. Esta forma de terapia ajuda as pessoas a reconhecer e mudar padrões disfuncionais de pensamento e comportamentos que reforçam a ansiedade e o estresse.

Uma outra estratégia que também pode ter um resultado benéfico em ambos os sintomas é a acupuntura. Ela é uma estratégia que envolve o microagulhamento de regiões específicas do corpo que podem promover o alívio da tensão local e equilíbrio emocional.

Em alguns casos, a medicação pode ser uma opção necessária tanto para gerenciar a ansiedade e/ou a dor na mandíbula. No entanto, é importante lembrar que os medicamentos devem sempre ser usados sob orientação de um profissional de saúde.

Conclusão

A relação entre a tensão na mandíbula e ansiedade é complexa e profundamente enraizada na resposta fisiológica do corpo ao estresse. Compreender esta conexão é um primeiro passo crucial para encontrar alívio de ambas as condições.

A tensão mandibular, quando não abordada, pode levar a problemas a longo prazo como a disfunção da articulação temporomandibular (ATM), o que causa ainda mais dor e desconforto.

Além disso, a ansiedade crônica pode afetar a saúde de uma forma mais ampla, aumentando os riscos de problemas cardíacos, digestivos, de sono, e de saúde mental.

Felizmente, existem estratégias de tratamento abrangentes disponíveis que abordam tanto a tensão física quanto a ansiedade. O mais importante é procurar a ajuda de um profissional de saúde ao experimentar sintomas persistentes ou graves.

O tratamento precoce pode ajudar a prevenir as complicações a longo prazo, melhorando a qualidade de vida. Ao desmistificar a relação da tensão mandibular e ansiedade, é possível desfazer o “nó”, aliviar o desconforto e abrir o caminho para um bem-estar e qualidade de vida.

Kayo Barboza

Médico Psiquiatra (CRM/BA 27300/RQE 17784) com formação em Mindfulness, fundador do Projeto Kalmaria e apaixonado pela missão de promover saúde mental para o maior número de pessoas possível.

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